O triunfo com gols de Eduardo Vargas e Charles Aránguiz foi o primeiro do Chile em 11 duelos na história. Antes disso, a Espanha havia vencido oito vezes e empatado outras duas. Esse retrospecto negativo alimentou bastante a rivalidade antes do jogo, já fomentada pela discussão do apelido “La Roja”, originalmente pertencente aos chilenos e, há quatro anos, apropriado pela seleção da Espanha, tradicional e internacionalmente conhecida como “La Fúria”.
Apoiada por uma maioria absoluta de chilenos no Maracanã, a Roja original jogou com autoridade, ainda que desenhada com uma formação teoricamente mais cautelosa, de três zagueiros. O resultado a levou aos mesmos seis pontos da Holanda, com quem disputará a primeira colocação do grupo B na próxima segunda-feira, em São Paulo. No mesmo dia, os últimos campeões mundiais, eliminados de modo precoce, tentarão somar o primeiro ponto diante da também eliminada Austrália, em Curitiba.
Grande parte do mérito desta quarta-feira se deve ao argentino Jorge Sampaoli, argentino que dirige a seleção chilena e que, na véspera, admitiu mudar sua equipe sem que ela perdesse a característica essencial de muita posse de bola. A especulada saída do meia Valdivia para a entrada do zagueiro Francisco Silva se confirmou e, com uma formação bem ensaiada, o treinador obteve sucesso na estratégia logo no primeiro tempo.
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Apesar de teoricamente mais defensivo, o Chile soube não chamar a Espanha para o seu campo, adiantando a primeira linha (formada pelos zagueiros Gonzalo Jara, Gary Medel e Francisco Silva) sempre que possível, especialmente quando o goleiro Bravo ganhava tempo nas reposições de bola. Vez ou outra, um dos zagueiros corria de volta para receber o passe perto da área e despachar a bola.
Além de terem seu campo encurtado, os espanhóis sofriam na saída de bola, com o goleiro Casillas e os zagueiros Sergio Ramos e Javi Martínez (escalado pelo técnico Vicente del Bosque no lugar de Piqué). Xavi também iniciou no banco de reservas, dando lugar a Pedro, o que deixou Iniesta isolado no meio-campo, motivo pelo qual ele encontrou muita dificuldade e teve uma tarde ruim, com irreconhecíveis erros de passe e desarmes bobos.
Tudo dava errado para a Espanha, mas talvez porque o Chile também estivesse se entregando mais em campo. Aos sete minutos, depois de cobrança de falta de Xabi Alonso que resultaria em escanteio, Alexis Sánchez se esforçou, controlou a bola na bandeirinha, evitando que ela saísse pela linha de fundo. Em um raro bom ataque espanhol, Diego Costa prendeu demais a bola e chutou torto. Na sequência da jogada, Xabi Alonso acertou a bola em cima de Bravo.
Aos 19 minutos, o time sul-americano abriu o placar. Alexis Sanchez tomou bola à frente do meio-campo, tabelou pela faixa direita do campo e fez ótimo passe para Aránguiz, dentro da área. O volante atrasou rasteiro para a marca do pênalti, onde Vargas driblou Casillas e chutou para a rede. Entrega, velocidade, técnica e efetividade que sintetizaram em um lance a superioridade sobre os últimos campeões mundiais.
Fernando Dantas/Gazeta Press
Com o passar do tempo, o nervosismo da Espanha foi ficando ainda mais evidente. Um dos principais jogadores do time, ele passou a cometer faltas de ataque para matar a saída de jogo chilena. Aos 39 minutos, Pedro não conseguiu dominar um longo lançamento e chutou a bola com força em uma placa publicitária. Pouco depois, Xabi Alonso deu uma entrada dura na intermediária defensiva e recebeu corretamente o primeiro cartão amarelo de sua equipe na partida.
O que já era difícil ficou ainda mais aos 42 minutos, quando o Chile, senhor do jogo, ampliou a vantagem. Alexis Sánchez bateu falta no canto esquerdo, e Casillas espalmou para frente. A defesa viu Aránguiz ficar com o rebote dentro da área, ajeitar a bola para a perna direita e dar um bico. O goleiro espanhol saltou, mas não alcançou, para festa dos milhares de torcedorespresentes no Maracanã.
Não era a tarde da Espanha, muito menos a de Diego Costa, que, aos 18 minutos, saiu muitíssimo vaiado para dar lugar a Fernando Torres. Sampaoli respondeu e substituiu Aránguiz por Felipe Gutiérrez, para reforçar seu meio-campo e sustentar o resultado. Mas a vontade dos jogadores era tanta que o Chile teve outras chances de marcar, mas não foi preciso balançar a rede novamente para poder festejar o troco histórico antes mesmo do apito final.
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